Meio & Mensagem:
Independente de visão política de cada um, um dos pontos mais difíceis de se criticar na campanha presidencial de Barack Obama foi o uso de e-mail marketing e database marketing. Mas nas últimas semanas, a estratégia de Obama deixou de se um case de marketing digital para passar a ser lembrado como um mero spammer.
O consultor da Casa Branca David Axelrod enviou um e-mail em nome da administração falando sobre as reformas na saúde do país para milhares de pessoas que aparentemente não pediram para ser contatadas. Seria um engano inocente, uma jogada maquiavélica dos opositores das reformas ou um ato de desespero de levar o plano para a maior quantidade de cidadãos possíveis?
CEO da Euro RSCG Discovery Zain Raj diz não acreditar em um erro inocente. O time de Obama teria feito aquilo que muitas marcas grandes fazem. "A equipe ficou tão arrogante diante da confiança e credibilidade que eles tem com os correligionários, que pensaram poder tirar vantagem", afirma. "Eles se esqueceram de quem eles estão servindo e o que tem acontecido com a marca Obama. Quando a campanha estava construíndo o nome, era parte de um movimento, mas agora ela está se tornando parte do establishment", diz.
Raj afirmou que uma parte da razão para isso ter ocorrido foi a falta dos profissionais de marketing que trouxeram o foco e delimitação da mensagem da campanha. "O comportamento está próximo à retórica. Desde que chegaram ao poder, há uma mudança fundamental ocorrendo no approach", acusa.
Pra Steve Cone, diretor de marketing da Epsilon, a ação não necessariamente foi intencional, mas que a Casa Branca pode ser culpada, já que presume que aqueles que se inscreveram para receber as atualizações somente convidam seus amigos após pedir permissão, diz. "Nos e-mails, o Governo pede que você envolva a maior quantidade de pessoas possível, assumindo que as pessoas pedirão permissão para os amigos, o que não é nada prático", diz.
Já na opinião de Stuart Ingis, sócio Venable, o Governo não tem culpa. Trata-se simplesmente de democracia. "Se os eleitos não podem se comunicar com o público por qualquer canal que seja, é um problema para a democracia. A questão antes de sabermos se as pessoas querem ou não receber os e-mails é se este tipo de comunicação deve ser deixada de lado", diz. Ele ressalta que o governo deveria poder enviar e-mails para os cidadãos, mas se as pessoas não quiserem, deveriam ser respeitadas.
Independente de quebrar a lei ou não, Margie Chiu, vice-presidente de serviços estratégicos da Wunderman, diz que não é bom para os anunciantes usar e-mails se o próprio governo está sendo visto como spammer. "Algo assim torna as coisas mais difíceis para nós, porque já há uma desconfiança em cima de e-mails e spams. E um incidente assim alimenta isso", acredita a executiva, que diz que a Casa Branca fez mal em não assumir a responsabilidade.
Por causa do Spamgate, a Casa Branca lançou um comunicado jogando a culpa em "grupos externos", que teriam adicionado à lista de e-mails pessoas que não desejavam recebê-los. John Cornyn, senador republicano, disse que Obama estaria utilizando a caixa de informações que deveria servir para coletar feedback sobre o plano para a saúde para coletar nomes e contatos, o que foi negado pela Casa Branca.
Para Raj, da Euro, o governo Obama, como outras marcas já precisaram, terá que fazer ajustes. "Toda grande marca enfrenta fatos que chacoalham com ela. A marca Obama também passa por isso e espero que eles aprendam que é melhor ouvir os consumidores do que não ouvi-los", conclui.
Do Advertising Age.
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